Quem resolveu antecipar o almoço nesta quinta-feira (4) e sair por volta das 11h25, dando uma última conferida em sua carteira de ações, especialmente nos papéis preferenciais da Petrobras, estava satisfeito. PETR4 subia cerca de 2,6%, cotada na faixa dos R$ 39,40.
Exatamente uma hora depois, uma nova conferida na carteira – e o preço estava em R$ 39,31. Ou seja, uma desvalorização de aproximadamente 0,2%. Nada de extraordinário, se tratando de uma blue chip da Bolsa. Só que não.
Nessa uma hora – entre a saída e o retorno do suposto almoço – uma série de acontecimentos fez o papel desabar 5%, em 30 minutos; nos outros 30 minutos, as ações da Petrobras saltam cerca de 4,8%.
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Por que as ações da Petrobras desabaram e disparam no mesmo dia?
As causas dessa extrema volatilidade, levando os papéis preferencias da Petrobras a oscilarem entre a máxima de R$ 39,48 e a mínima de R$ 37,43, não eram novas, mas eclodiram, em sintonia quase perfeita.
Sobre a queda das ações, a razão está relacionada à “fritura”, no jargão político, do CEO da Petrobras, Jean Paul Prates. É sabido, pelos bastidores, que há tempos ele atrita com ministros do governo Lula, especialmente Alexandre Silveira, de Minas e Energia.
Entretanto, algo novo pairava no ar. Primeiramente, o jornal Folha de S.Paulo publicou que Prates pediu uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conversar sobre ataques a ele promovidos por pessoas do próprio governo, pretendendo dar um basta na situação.
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No final da manhã, porém, os rumores da demissão de Prates se fortaleceram e as ações derreteram, especialmente com o anúncio de quem, supostamente, entraria no lugar de Prates: o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Citando fontes, a CNN deu que a saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras era “iminente”, enquanto a GloboNews ia na mesma linha, reforçando o nome do petista histórico para o lugar de Prates – que é um especialista reconhecido há tempos dentro do setor de petróleo.
Reações iniciais
Para Frederico Nobre, líder de análise da Warren Investimentos, a má recepção ao nome do atual presidente do BNDES é porque ele é visto por investidores como uma pessoa mais dogmática. “Tem um histórico ruim e nunca teve experiência no setor, diferentemente de Prates”, salienta.
O mercado financeiro demonstra preocupação com Aloizio Mercadante principalmente por sua abordagem econômica, considerada mais heterodoxa, e por políticas adotadas por ele no passado, quando esteve em outros cargos governamentais.
A participação de Mercadante em governos petistas do passado é lembrada por decisões consideradas fiscalmente irresponsáveis, interferências nas estatais, controle artificial de preços e práticas de “contabilidade criativa”.
Nomes
Leandro Petrokas, diretor de research, avalia, porém, que o governo soltou nesta quinta-feira um “balão de ensaio”, jogando notícias e nomes para ver a reação do mercado.
De qualquer forma, para Petrokas, isso tudo sinaliza que o governo – ou ao menos uma ala dele – está querendo interferir na atual gestão da Petrobras.
“Mercadante é um nome que o mercado entende como sendo da ala um pouco mais radical do PT, ao menos a história política dele mostra isso, o que naturalmente não seria bem visto”, fala.
Segundo apurou o InfoMoney, com uma pessoa próxima à Petrobras, o nome de Mercadante “não faria muito sentido”.
Na véspera, outros nomes haviam sido ventilados. Conforme a coluna Painel Folha, entre os cogitados, estariam Bruno Moretti, atual secretário especial de análise governamental da presidência, ligado a Rui Costa, ministro da Casa Civil, e Magda Chambriard, que já atuou na estatal, antes de ser presidente da ANP.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que, para além da entrada de Mercadante, hoje Prates é visto pelo mercado como alguém que tenta equilibrar os anseios corporativos e políticos da empresa.
“Fora que se a sua saída se concretizar, dificilmente teríamos um substituto com a expertise e know-how do atual CEO”, corrobora.
Petrobras (PETR4): alta volatilidade
Confira abaixo a movimentação da ação da Petrobras (PETR4) nesta quinta-feira.
Primeiro, o papel desabou com aumento de rumores de saída de Prates e, em seguida, saltou com possível volta de dividendos extraordinários, mas foi derretendo ao longo da tarde.
Disparada das ações da Petrobras
Agora, vamos para a segunda parte da história. Passa das 12h e o jornal O Globo manchetou, em sua versão online, que a Petrobras voltaria a distribuir dividendos extraordinários.
Logo, as ações preferenciais passaram a subir, chegando a ter alta de mais de 2% – revertendo completamente as perdas da hora anterior.
No começo de março, após a companhia anunciar seu resultado do quarto trimestre e seus dividendos, o mercado reagiu mal à notícia de que a estatal não iria distribuir proventos extraordinários.
Apesar de a diretoria ter defendido na época que o lucro excedente da empresa iria para uma reserva para dividendos futuros, a percepção que ficou é que a empresa investiria mais, principalmente na busca por transição energética.
Devido também ao passado recente de investimentos da Petrobras, com o chamado Petrolão e investimentos pouco proveitosos como os de Pasadena e Abreu e Lima, surgiram temores de que o caixa da empresa seria mal utilizado.
Dividendos no centro da disputa
“O mercado foi pego de surpresa com essa mudança (do não pagamento extraordinário), sendo que a Petrobras vinha sinalizando de que ela ia distribuir esses proventos extraordinários, até pela necessidade de o governo de compor seu orçamento, já que os dividendos ajudam”, comenta Fabiano Vaz, analista da Nord Research.
“Acho que a gente está naquela parte de especulação, mas parece, de qualquer forma, que as decisões saem do palácio do Planalto e não da sede da Petrobras”, completou Vaz.
Para outro analista, a Petrobras, hoje, está em meio a uma disputa de alas do governo. Enquanto os mais à esquerda e heterodoxos defendem o uso do caixa da estatal para investimentos, outra que está de olho na ajuda que a empresa pode dar por meio dos dividendos aos cofres públicos.
Haddad
Em meio a tudo isso, uma coisa é certa: está difícil para o governo fechar as suas contas.
Não é de agora que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se queixa da frustração com as receitas previstas. Assim, os dividendos da Petrobras poderiam ajudar – e muito – o governo a cumprir sua meta fiscal estabelecida para 2024.
“A decisão é uma vitória de Fernando Haddad sobre Rui Costa e Silveira, que defendiam segurar os recursos, alegando que sem eles a companhia poderia correr o risco de não ter dinheiro suficiente para sustentar o plano de investimentos”, escreveu a colunista de O Globo, Malu Gaspar, que trouxe a informação sobre a decisão do pagamento extraordinário de dividendos nesta quinta-feira, fazendo disparar as ações.
Segundo ela, uma reunião na quarta-feira (3) no Palácio do Planalto entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e Rui Costa, da Casa Civil, selou a decisão de pagar os dividendos extraordinários da Petrobras, que foram retidos pelo conselho de administração em março.
A publicação afirmou ainda que executivos da Petrobras, entre eles, o CEO, Jean Paul Prates, já foram comunicados.
Lula vai bater o martelo
Por fim, quem vai decidir tudo isso será o presidente Lula, tanto sobre o cargo de Prates, quanto sobre os dividendos.
Espera-se, portanto, agora, pela chancela do presidente Lula. Mas, diante do aparente consenso entre os três ministros, a avaliação é de que os pagamentos devem ser liberados, concluiu a reportagem.
Assim, a expectativa é de que a proposta seja deliberada na assembleia da companhia.
Petrobras nega qualquer decisão sobre dividendos
Ao final do pregão, em meio à muita especulação e volatilidade, as ações da Petrobras fecharam em queda, de 1,41%, cotadas a R$ 37,88 – influenciadas também pela piora no cenário externo.
Depois do encerramento do pregão, a Petrobras divulgou um comunicado ao mercado, afirmando, em relação à notícia sobre o pagamento de dividendos extraordinários, “que não há decisão tomada quanto à distribuição de tais valores.”
E segue: “Conforme Fato Relevante de 07/03/2024, o Conselho de Administração (CA) da Petrobras propôs à Assembleia Geral Ordinária que o valor de R$ 43,9 bilhões referente ao lucro remanescente do exercício de 2023 seja integralmente destinado para a reserva de remuneração do capital. A competência para aprovar a destinação do resultado, incluindo o pagamento de dividendos, é da Assembleia Geral de Acionistas, que será realizada no dia 25/04/2024.”