Nem mesmo um leilão extraordinário de dólares feito pelo Banco Central na sessão desta sexta-feira (13) conseguiu reverter a tendência mais negativa dos ativos domésticos, inclusive do Ibovespa. O índice encerrou o dia com queda de 1,13%, aos 124.612 pontos, bem perto da mínima de 124.578 pontos, e distante da máxima de 126.290 pontos. A última vez que o Ibovespa caiu para abaixo dos 125 mil pontos tinha sido em 28 de novembro, um dia após a apresentação do pacote de corte de gastos, quando chegou aos 124.610 pontos.
Das 86 ações do Ibovespa, 59 fecharam o dia em queda diante da disparada dos juros futuros. Papéis de blue chips também não escaparam. Na contramão da alta do petróleo, as ações PN da Petrobras recuaram 0,63%, enquanto as ON caíram 0,48%. Já entre os bancos, a maior contração foi registrada pelas units do BTG Pactual, que recuaram 1,85%.
Na ponta positiva, ações da GPA foram o destaque, com uma alta de 4,87%. Segundo apuração do Valor, o investidor Nelson Tanure deve assumir o controle da rede de supermercados Dia e há interesse em uma fusão entre os dois grupos. Apesar disso, ainda não há negociações em andamento.
O analista Hayson Silva, da Nova Futura Investimentos, diz que a reestruturação financeira do GPA, com redução do endividamento e melhoria operacional, tornaria a empresa mais atrativa para um possível acordo, o que impulsionou as ações em meio à queda de seus pares.
A saga fiscal para aprovar o pacote de corte de gastos permanece no foco do mercado. Em novo revés, o governo acatou a recomendação de adiar a votação de dois projetos do pacote fiscal, que poderiam ser votados nesta sexta-feira. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), porém, indicou que acionará o “modo turbo” para aprovar pautas como o pacote na semana que vem.
Agentes financeiros também monitoram a saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deixou a UTI, está lúcido e segue sob cuidados semi-intensivos, segundo boletim médico divulgado hoje.
Na avaliação de Cassiano Leme, CEO da Constância Investimentos, a piora adicional do mercado local na sessão de hoje pode ser explicada pela deterioração de expectativas e erosão da credibilidade. “O ajuste [de corte de gastos] que está sendo discutido e proposto não vai na direção de colocar a política fiscal e monetária em sintonia”, diz.
O executivo também afirma que não está otimista com a tramitação do pacote. Ele avalia que o conjunto de medidas proposto foi “tímido” e que as discussões apontam para uma diluição dos temas no Congresso. “Se continuar essa situação fiscal pouco resolvida, acho que a tendência é de piora adicional [dos ativos]”, acrescenta Leme.
Diante da falta de novos catalisadores, Silva, da Nova Futura Investimentos, lembra que o mercado fica mais vulnerável a reações exageradas e que tende a realizar ajustes de posição, de olho na agenda fiscal, o que potencializa movimentos erráticos. “Na falta de fatos, reina o boato”, resume.
Na sessão de hoje, o volume financeiro no índice foi de R$ 17,1 bilhões e de R$ 22,7 bilhões na B3. Já em NY, o Nasdaq subiu 0,12%, o Dow Jones caiu 0,20% e o S&P 500 terminou no zero a zero.