Estudo revela contaminação de indígenas Yanomami por mercúrio

Redação
por Redação

Uma pesquisa realizada pela Fiocruz com apoio do Instituto Socioambiental (ISA) entre indígenas do povo Yanomami de nove aldeias localizadas em Roraima mostrou que todos os participantes estão contaminados por mercúrio.

Os maiores níveis de exposição foram detectados em indígenas que vivem nas aldeias localizadas mais próximas aos garimpos ilegais de ouro.

Os pesquisadores identificaram a presença do metal pesado em amostras de cabelo de cerca de 300 pessoas analisadas, incluindo os grupos mais vulneráveis como crianças e idosos. Em quase 11% das amostras, o índice do metal pesado foi de pelo menos 6,0 microgramas por grama, considerado alto, que requer atenção especial e investigação complementar.

Conforme orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS), níveis assim podem trazer sérias consequências à saúde e portanto não há limite seguro para exposição. 84% registraram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 microgramas por grama. Nas duas faixas de contaminação, é necessário notificar os casos ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), a fim de se produzir estatísticas oficiais sobre o problema na região.

“Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crônica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos”, explica o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Ensp/Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz).

É importante ressaltar que o estudo realizou as coletas na região do Alto Rio Mucajaí, em outubro de 2022. O local é alvo do garimpo ilegal há décadas, o que vem causando destruição ambiental, insegurança, violência e prejuízos à saúde dos indígenas.

“O garimpo é o maior mal que temos hoje na Terra Yanomami. É necessário e urgente a desintrusão, a saída desses invasores. Se o garimpo permanece, permanece também a contaminação, devastação, doenças como malária e desnutrição e isso é o resultado dessa pesquisa, é a prova concreta!”, enfatiza o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa.

Além da detecção do mercúrio, a pesquisa fez exames clínicos para identificar doenças crônicas não transmissíveis. A partir disso foi possível identificar que mais de 80% dos participantes relataram ter tido malária ao menos uma vez na vida, com uma média de três episódios da doença por indivíduo.

Mais de 25% das crianças menores de 11 anos tinham anemia e quase metade apresentaram desnutrição aguda. Além disso, 80% apresentaram déficits de estatura para idade, o que sugere, de acordo com os parâmetros da OMS, um estado de desnutrição crônica.

Outro dado alarmante é referente à cobertura vacinal: Na região do estudo, apenas 15,5% das crianças estavam com as vacinas do calendário nacional de imunização em dia.

O estudo também analisou 47 amostras de peixes e todas apresentaram algum grau de contaminação por mercúrio, sendo as maiores concentrações detectadas em peixes carnívoros, em espécies muito apreciadas na Amazônia, tais como o mandubé e piranha.

A análise do risco atribuível ao consumo de pescado revelou que a ingestão diária de mercúrio excede em três vezes a dose de referência preconizada pela Agência de Proteção Ambiental do governo dos Estados Unidos.

Os pesquisadores fazem uma série de recomendações com base no cenário encontrado durante os estudos. Como ações emergenciais, mencionam interrupção imediata do garimpo e do uso do mercúrio, desintrusão de invasores e a construção de unidades de saúde em pontos estratégicos da Terra Indígena Yanomami.

Fonte: Externa

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