Os vapes, como são conhecidos os cigarros eletrônicos, vão seguir com a venda proibida no Brasil. Foi o que decidiu a Anvisa na sexta-feira (19). A regra vai contra a pressão da indústria, que pedia a liberação da comercialização sob o argumento de que eles são menos nocivos é uma opção para quem quer parar de fumar. Mas, o que dizem os especialistas?
Abaixo, nesta reportagem, o g1 preparou uma lista de perguntas e respostas sobre os cigarros eletrônicos para te ajudar a entender o que baseou a discussão no Brasil e o que diz a ciência sobre o assunto.
A indústria argumenta que os cigarros eletrônicos funcionam como “redução de danos” para quem já fuma cigarro comum. Ou seja, de que são uma forma menos prejudicial de acesso à nicotina para pessoas viciadas. Para isso, apresentam um relatório feito pelo King’s College, do Reino Unido, que diz que vaporizadores são 95% menos prejudiciais que o cigarro comum.
O documento chega a essa conclusão a partir de uma revisão de artigos publicados e de pesquisas feitas anteriormente por outros institutos com pessoas que usaram cigarro eletrônico, mas durante um curto prazo.
As instituições de saúde e pesquisadores apontam que não há evidência científica que demonstre que o cigarro eletrônico é efetivo como contenção de danos.
Reforçam ainda que há menos tempo no mercado, ele já demonstrou seu potencial de risco com a evali – uma lesão pulmonar que pode levar à morte em um curto espaço de tempo e é causada pelas substâncias presentes nos vapes.
O médico e coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB, Ricardo Meireles, explica que não existe redução de danos para o tratamento do tabagismo, que mata cerca de 400 pessoas por dia no Brasil. A única forma é cessar o uso de qualquer fumo.
“Não existe redução de danos no tabagismo. Estamos vivendo agora o que vivemos um século atrás, quando o cigarro começou a circular. No começo, as pessoas não sabiam que o cigarro fazia mal e foram muitas mortes até que soubéssemos a verdade. Hoje, o cigarro eletrônico está no mercado há poucos anos e já tem uma doença para chamar de sua, que é a evali. Não podemos deixar a história se repetir”, explica.
Os cigarros eletrônicos têm nicotina e ela é a responsável pelo vício do tabagismo. No site da Philip Moris, por exemplo, há uma série de perguntas e respostas sobre o produto, ao clicar na questão “vaporizar vicia?” você é levado a um texto que, na verdade, traz a resposta para “a nicotina é ruim para você?”. No texto, a empresa diz:
“A nicotina é viciante e não é isenta de riscos. No entanto, são os elevados níveis de substâncias químicas nocivas libertadas quando o tabaco é queimado – e não a nicotina – que são a principal causa das doenças relacionadas com o tabagismo”.
Ou seja, não há uma resposta clara do setor sobre o risco de vício.
A nicotina é uma substância altamente viciante e, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, não há quantidade segura para o consumo. Segundo os especialistas, é por causa da nicotina que as pessoas viciam no cigarro.
Os vapes têm sal de nicotina, o que faz com que o composto seja entregue em concentrações até vinte vezes maiores no corpo.
Um dos pontos levantados na análise técnica da Anvisa é de que a forma como são apresentados, com aromas e sabores, enganam a percepção de quem fuma sobre o vape ter nicotina e seu potencial de vício.
Margareth Dalcomo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisologia (SBPT), diz que a forma como é feita a divulgação e o próprio produto interfere na percepção de quem usa de que aquilo é um cigarro e tem nicotina.
“Esses dispositivos têm uma concentração de nicotina muito alta. Com sabores e aromas, eles estão chegando nos adolescentes que são muito mais impactados por esse alto teor de nicotina. Os vapes estão criando uma legião de viciados muito precoces”.
O fumo no cigarro eletrônico não funciona pela queima e sim pela vaporização. Com isso, a indústria alega que não há monóxido de carbono e, portanto, menos risco já que seria essa a substância causadora das doenças relacionadas ao tabagismo.
Há milhares de tipos de cigarros eletrônicos no mercado e cada um com uma composição, o que dificulta saber o que, especificamente, há nos vapes. Não há estudos que relacionem o vape com o câncer, apesar disso, os médicos apontam que há mais de duas mil substâncias nos cigarros eletrônicos e várias delas tóxicas e cancerígenas como: glicerol, propilenoglicol, formaldeído, o acetaldeído, a acroleína e a acetona.