Sangramento no cérebro pode ocorrer semanas ou meses após quedas; situação é mais comum em idosos

Redação
por Redação

Na madrugada desta terça-feira, 10, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou por uma cirurgia para tratar uma hemorragia intracraniana. De acordo com a equipe médica de Lula, o sangramento está relacionado à queda sofrida pelo presidente no banheiro do Palácio da Alvorada em outubro deste ano. Os médicos destacaram ainda que esse tipo de quadro, em que a hemorragia surge semanas ou até meses após um trauma na cabeça, é mais comum em idosos.

O cardiologista e médico pessoal de Lula, Roberto Kalil Filho, informou que o presidente vinha sendo monitorado desde a queda, com exames regulares que indicavam uma reabsorção gradual e espontânea do sangue acumulado, levando à redução do hematoma. No entanto, após Lula relatar dores de cabeça intensas, novos exames revelaram um sangramento significativo, que resultou na formação de um hematoma de aproximadamente 3 centímetros, exigindo uma cirurgia.

“Em alguns casos, o sangramento é intermitente: há uma pequena perda de sangue, seguida de melhora, e assim por diante. Já em outros casos, o sangramento pode se intensificar de forma abrupta e repentina, expandindo rapidamente, e o cérebro não consegue se adaptar, o que gera sintomas como dor de cabeça intensa. Foi o que aconteceu com Lula”, explicou o neurocirurgião Marcos Stavale, um dos médicos responsáveis pelos cuidados do presidente.

Esse tipo de complicação, de acordo com o neurologista Rogério Tuma, que também integra a equipe médica de Lula, é mais frequente em idosos. “Muitas vezes, a pessoa nem se lembra de ter sofrido uma queda, e o hematoma pode surgir semanas ou até meses depois”, afirmou durante coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 10, no Hospital Sírio-Libanês, onde o presidente está internado.

Equipe médica explicou o quadro do presidente durante coletiva de imprensa no Hospital Sírio-Libanês, onde Lula está internado Foto: Werther Santana/Estadão

Possíveis explicações

Ao Estadão, o neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein, Reynaldo Brandt, explicou que isso acontece porque, com o envelhecimento, os vasos sanguíneos tornam-se mais frágeis, aumentando o risco de sangramentos. Além disso, ocorre uma redução do volume cerebral, o que cria mais espaço entre o cérebro e o crânio.

“Esse espaço extra permite que o cérebro se movimente mais. Dessa forma, quando existe uma desaceleração forte e repentina, a colisão entre cérebro e paredes do crânio pode causar danos às estruturas nervosas e aos vasos, favorecendo o surgimento ou agravamento de hematomas”, afirmou.

O deslocamento cerebral, favorecido pela idade, foi um dos fatores que colaboraram para que o hematoma de Lula, inicialmente localizado na região da nuca, migrasse para a região frontoparietal — na parte superior da cabeça, do lado esquerdo. O fenômeno, segundo os médicos, também não é incomum.

“Quando alguém bate a cabeça e ela se desloca para frente e para trás, o sangramento não permanece necessariamente no local da batida. Ele pode acabar sendo influenciado pelo movimento do próprio cérebro, que se desloca dentro do crânio”, explicou Stavale.

Hemorragia intracraniana

Aos 79 anos, Lula pertence ao grupo de maior risco para complicações decorrentes de quedas, especialmente quando há impacto na cabeça.

Segundo o neurologista Diogo Haddad, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em idosos, mesmo batidas leves podem causar complicações graves, como sangramentos internos ou externos, com possível formação de hematoma (sangue confinado em área específica), hemorragia, edema ou formação de coágulos.

“Nessa faixa etária, o risco é elevado pela fragilidade óssea e também por condições pré-existentes, como o uso de anticoagulantes, que reduzem a capacidade do sangue de coagular, dificultando o controle de sangramentos”, destacou Haddad.

No caso de Lula, a batida na cabeça resultou em um acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio, condição conhecida como hemorragia intracraniana subdural. “O hematoma não atingiu diretamente o cérebro, mas, por estar localizado entre essas duas áreas, causava uma compressão cerebral que, se mantida, poderia resultar em complicações”, explicou Kalil.

Como tratamento, o presidente precisou passar por uma trepanação, procedimento que consiste na perfuração do crânio com o objetivo de acessar o espaço intracraniano. A técnica é utilizada no tratamento de diversas condições neurológicas e, no caso do presidente, o objetivo foi drenar o acúmulo de sangue.

“A prontidão do procedimento ocorreu devido à compressão causada pelo sangue. Por não estar diretamente no cérebro, não há risco de sequelas e o sangramento foi totalmente drenado na cirurgia, o que reduz as chances de novos sangramentos”, esclareceu Tuma.

Sintomas e diagnóstico

A dor de cabeça intensa é o principal sintoma da hemorragia intracraniana. Também podem ocorrer mal-estar, alterações visuais, sonolência e, por vezes, náuseas e vômitos. Esses sinais podem ser acompanhados ainda de perda de movimentos, força e sensibilidade em partes do corpo.

“É importante reforçar que cada hemorragia pode se manifestar com diferentes tipos de sintomas. Por isso, a orientação é sempre procurar o médico na presença de algum sintoma estranho ou diferente”, orientou Alexandre Bossoni, neurologista do Hospital Santa Paula.

Já o diagnóstico é relativamente simples e é obtido com auxílio de tomografia computadorizada ou ressonância magnética da região do crânio.

Fonte: Externa

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