O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou nesta sexta-feira (29) o general Richard Nunes para assumir o Estado-Maior do Exército, segundo posto mais relevante da força.
Segundo integrantes do governo, trata-se de uma movimentação comum nas forças.
Assim como o próprio comandante do Exército, Tomás Paiva, Nunes sofreu ataques de bolsonaristas no fim do governo Jair Bolsonaro (PL). À época, ele era do Alto Comando, por ser comandante militar do Nordeste, e teve seu nome e foto circulando por não apoiar atos golpistas após a derrota do então presidente.
À época, ele escreveu um texto em que criticou o inconformismo com a “tradicional postura legalista e de neutralidade do Exército”, que tem gerado “insultos a camaradas de longa data, ataques a reputações típicos de regimes totalitários, ‘vazamentos’ de supostas informações, divulgação de memes difamatórios, tudo para tentar atingir a coesão da Força”.
Em outra passagem de seu texto, publicado em blog do Exército, Nunes afirma que “por vezes, dizer ‘não’ pressupõe muito mais coragem do que alinhar-se a eventuais pressões de caráter político”.
Na gestão de Paiva, Nunes estava chefiando o departamento de Educação e Cultura do Exército. Agora, o general Francisco Humberto Montenegro Junior assumirá o cargo, uma vez que o ex-comandante militar do Nordeste vai para o Estado-Maior.
O general também voltou aos holofotes nesta semana após a prisão do delegado Rivaldo Barbosa, suspeito de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).
Barbosa chegou ao cargo de chefe da Polícia Civil no Rio de Janeiro em 2018, nomeado por Nunes, então secretário de Segurança Pública do estado. À época, a área estava sob intervenção federal, e o interventor era o general Braga Netto, que depois virou ministro de Bolsonaro e vice na chapa derrotada pela reeleição.
Ao jornal “Folha de S.Paulo”, Nunes se disse “perplexo” com a prisão de Rivaldo Barbosa como um dos arquitetos da execução e disse considerar que pode ter sido ludibriado, “como toda a sociedade foi”.
“Lógico que essa prisão me deixou perplexo. Como é que pode um negócio assim? É impressionante. É um negócio de deixar de queixo caído. Naquela época, não havia nada que sinalizasse uma coisa dessas, uma coisa estapafúrdia”, declarou Nunes.
Ele relatou que na época havia elementos para achar que Rivaldo e o delegado Giniton Lages, que conduziu o caso Marielle na Delegacia de Homicídios e é investigado como participante do esquema para matá-la (foi afastado das funções e terá de usar tornozeleira eletrônica), estavam no caminho correto da elucidação do crime.
O general ficou na função de fevereiro de 2018 a dezembro do mesmo ano. Quando estava de saída, deu uma entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” em que afirmou que Marielle foi morta por milicianos por ser um entrave à grilagem de terras na zona oeste do Rio.
Hoje, segundo a Polícia Federal, Rivaldo é suspeito de ter arquitetado as mortes da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018. Ainda de acordo com os investigadores, o delegado teria atuado para obstruir as investigações do caso.
Quem chefiou a investigação no Rio foi o delegado Giniton Lages, indicado por Rivaldo, e que foi alvo de busca e apreensão no último domingo. Ambos negam envolvimento na morte da vereadora.
O relatório da PF sobre o caso diz que Rivaldo criou uma organização criminosa dentro da Polícia, suspeita de cometimento de crimes variados, como corrupção, obstrução, tráfico de influência e até fraudes processuais.
A atuação da Polícia Civil é o ponto central da tese dos investigadores federais. A apuração evidencia problemas dentro da polícia fluminense ocorridos em diferentes gestões.