Eu penso muito, sobre tudo. Sobre tudo o que pode vir a acontecer. E sobre o que eu tenho certeza que nunca vai acontecer. Aliás, meu grande desafio é estar mais no presente do que no futuro.
Enfim, eu já me peguei pensando se continuaria a correr e a consumir alimentos saudáveis se, de um dia para o outro, as calorias deixassem de existir. Se, puf!, do nada, nenhum alimento engordasse: a gente só pegaria deles a energia que precisa para viver.
Será que eu correria quase todo dia por puro prazer, só porque me faz bem? Ou eu aproveitaria esse tempo para dormir mais um pouco? E a alimentação: seguiria à base de comida de verdade ou cederia aos alimentos altamente palatáveis e calóricos?
A revolução causada pelo Ozempic e similares não chegou lá, mas chegou perto. As calorias dos alimentos seguem existindo, mas a relação de milhares de pessoas com a comida mudou muito depois desses medicamentos.
Ozempic é o nome comercial de um remédio injetável para tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, mas não é o único com a semaglutida como princípio ativo. E, de fato, é considerado uma revolução pela classe médica, tanto pela efetividade – as pessoas de fato sentem menos fome e perdem peso – quanto por ser seguro e não envolver dependência, ao contrário de outras drogas emagrecedoras.
Segundo ponto: não é justificável que pessoas se mediquem sem necessidade e que fiquem sujeitas aos efeitos colaterais da semaglutida. Ela pode causar enjoo, vômito, diarreia, fortes dores abdominais, constipação, dor de cabeça e sonolência. São muito frequentes os relatos de fraqueza e indisposição.
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Nos Estados Unidos, academias já sentem uma queda na frequência e culpam o “efeito Ozempic”. Segundo alguns treinadores, muitos alunos que tomam a medicação precisam interromper o treino por causa de tontura, náusea e até vômitos.
A indicação é de que eles conversem com o instrutor para fazer adaptações no treino, tanto na intensidade quanto nos intervalos de descanso.
Terceiro ponto: a semaglutida é uma droga para tratamento de doenças crônicas, ou seja, que exigem tratamento contínuo – muitas vezes pela vida toda. É uma medicação cara. Quem toma por motivos estéticos tende a parar logo que chega ao peso desejado.
E daí – e isso não é demérito do remédio – muitas vezes a pessoa recupera o peso perdido ou até mesmo ganha ainda mais quilos no longo prazo, especialmente se não tiver feito mudanças sustentáveis no estilo de vida. Há ainda a chance de desenvolverem uma compulsão alimentar.
No caso de quem tem obesidade, medicação e acompanhamento psicológico podem fazer parte do tratamento – assim como, muitas vezes, a cirurgia bariátrica. Mas se você não possui esses problemas, o caminho mais seguro, eficaz e vantajoso para chegar lá é comendo bem e se exercitando.
Só que na era do imediatismo, do “tudo pra ontem”, muita gente anda pegando o atalho. O caminho da mudança de estilo de vida dá trabalho, exige disciplina e força de vontade. E muitas pessoas que emagreceram com as injeções andam se perguntando: “Para que fazer dieta e malhar mesmo?”.
Respondo: primeiro, porque ajuda na tarefa de manter a forma. Segundo, porque alcançar um peso adequado é apenas um dentre vários aliados da saúde e da longevidade. E a lista de outros motivos para você manter uma alimentação saudável e praticar exercícios – tanto aeróbicos quanto os de força – é imensa. Vou listar aqui apenas alguns:
- Prevenção de doenças como diabetes, doenças cardíacas, AVC, alguns tipos de câncer, osteoporose e até mesmo doenças neurodegenerativas;
- Melhora da saúde cardiovascular;
- Fortalecimento muscular e ósseo;
- Melhora da função intestinal;
- Aumento da energia e disposição;
- Melhora do humor e do sono;
- Redução do estresse e da ansiedade;
- Aumento da autoestima e da confiança;
- Aumento da expectativa de vida, com independência e autonomia.
A gente vai viver cada vez mais, isso é fato. Mas como vamos chegar lá?
Se você quiser chegar bem, com autonomia, disposição e lucidez, invista desde já na sua alimentação, pratique atividade física, gerencie o estresse e o sono e cultive boas amizades.
Para mim, o pior efeito colateral do Ozempic seria o seguinte: pessoas com apenas alguns quilos a mais desistirem da ideia de manter hábitos saudáveis porque conseguem perder peso com as tais injeções.