A desigualdade de renda no Brasil ficou estável em 2023, ante 2022, no menor nível histórico, com a ajuda do Bolsa Família, mas a situação no mercado de trabalho ficou mais desigual, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua – Todos os rendimentos 2023, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No indicador, o rendimento inclui aqueles originários do trabalho, com valores de salários, mas também de outras fontes, como aposentadoria e pensão; aluguel e arrendamento; pensão alimentícia, doação e mesada de não moradores; programas sociais como Bolsa Família; seguro desemprego e rentabilidade de aplicações financeiras, por exemplo.
“O índice de Gini se manteve no menor valor da série da pesquisa. Se considerar só o rendimento do trabalho, houve uma pequena variação positiva [alta] em relação a 2022. Mas, por outro lado, os rendimentos dos programas sociais, particularmente o Bolsa Família, avançaram e contrabalançaram. Isso ajudou a manter a estabilidade do indicador”, diz o responsável pela pesquisa, Gustavo Geaquinto.
A pesquisa também calcula o índice de Gini do rendimento médio de todos os trabalhos. Neste caso, o indicador subiu de 0,486 em 2022 – menor nível da série histórica da pesquisa – para 0,494 em 2023. Ou seja, o índice se aproximou de 1 e, assim, apontou aumento de desigualdade. Ainda assim, se mantém abaixo do nível pré-pandemia: era de 0,506 em 2019.
Esse aumento da desigualdade do mercado de trabalho, segundo Geaquinto, é explicado pelo aumento maior do rendimento entre os trabalhadores mais bem remunerados que daqueles na base do mercado. O crescimento do rendimento do trabalho em 2023 foi de 10,4% no grupo dos 10% mais ricos, bem acima da taxa de 1,8% registrada no grupo dos 10% mais pobres. Na média, a alta foi de 7,2%.
“O décimo da população com maiores rendimentos teve expansão maior que a das demais classes de rendimentos, inclusive da população dos 10% mais pobres”, disse.
Chama atenção nesse movimento, aponta ele, o avanço do rendimento entre os trabalhadores com ensino superior completo, quando se considera o grau de instrução, e entre os empregadores, quando a referência é a posição na ocupação. “A população com nível superior completo tinha registrado queda no rendimento. Em 2023, há uma recuperação geral do mercado de trabalho, com expansão importante da população ocupada, especialmente em segmentos mais sofisticados dos serviços, como aqueles que são prestados às empresas”, notou.