Dermatite atópica: muito além de uma coceira incômoda

Redação
por Redação

A descoberta veio relativamente cedo. Aos 16 anos, Amanda Lima tinha muitas lesões nas pernas e braços, se coçava o tempo todo e ficava com a pele marcada. “Até hoje tenho essas cicatrizes. Descobri a dermatite atópica na adolescência, em uma época da vida em que a vaidade está nas alturas”, lembra.

Hoje, aos 38 anos, a publicitária sabe lidar com a questão, mas não foi sempre assim. “Demorou até descobrir o que desencadeava as lesões e coceiras. Com o passar do tempo, fui amadurecendo e criando caminhos para conviver da melhor forma com a questão. Hoje, já sei quais são os gatilhos controláveis e me atento a eles, mas há aquele que não está 100% na minha mão, que é o emocional. Sempre que estou com um nível de estresse mais alto, preciso ficar atenta”, conta.

A publicitária Amanda Lima com o filho Pedro, de 6 anos Foto: Arquivo pessoal

E ela não está sozinha. A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é uma doença de pele inflamatória frequente, provocada por uma reação exagerada das defesas naturais do organismo que se manifesta com coceira e lesões averme­lhadas e descamativas. “O público mais atingido é o infantil, mas a doença pode se manifestar também na vida adulta”, conta Ana Paula Resque, diretora médica do laboratório Sanofi.

Para se ter ideia, de acordo com iniciativa da Organização Mundial da Saúde, estima-se que a dermatite atópica afeta, pelo menos, 230 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a principal causa de doenças crônicas em condições de pele. E mais: “Por não ter cura e estar presente em áreas visíveis e expostas, muitas vezes os pacientes enfrentam preconceito porque as pessoas, no geral, acreditam que é uma doença contagiosa”, conta Tatiane Curi, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Por isso, é preciso conhecer, entender e saber lidar com essa doença que é tão comum e pode impactar, de diversas formas, a vida de quem convive com ela.

As recentes inovações para o tratamento

Estudos científicos recentes têm mostrado que a introdução de novas opções terapêuticas tem o potencial de transformar o manejo da dermatite atópica grave, oferecendo alternativas para casos que não respondem aos tratamentos tópicos convencionais .

Nesses casos mais graves, o uso de terapias avançadas sistêmicas como imunobiológicos – tratamento que age diretamente no processo inflamatório da pele evitando exacerbações da doença e controlando os sintomas de forma eficaz – é essencial. Além disso, esse tipo de tratamento já é incorporado ao Sistema Único de Saúde, o SUS, e está disponível para pacientes adultos e pediátricos, entre 6 meses e menores de 18 anos. “A inclusão de novas terapias no SUS permite uma abordagem mais eficaz, reduzindo os impactos da doença na vida das crianças e seus familiares e contribuindo para a redução de custos em longo prazo”, avalia Norma Rubini, médica alergista e diretora Científica da ASBAI.

Além do tratamento agudo, existe o tratamento a longo prazo e o cuidado diário, tudo para que a dermatite atópica não afete tanto a rotina de quem tem essa doença. “A coceira persistente provocada causa feridas que atrapalham o sono, os afazeres cotidianos e a vida social”, explica Ana Paula Resque, diretora médica do laboratório Sanofi.

Por isso, os objetivos terapêuticos incluem uma abordagem em várias etapas com intervenções destinadas a evitar, também, gatilhos relevantes. “A escolha do tratamento é amplamente baseada na gravidade da doença, com ajustes na idade dos pacientes, presença de comorbidades relacionadas, resposta do paciente, preocupações com a adesão e custo”, complementa Tatiane Curi, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Saúde mental: um fator importante

A dermatite atópica tem aspectos que envolvem genética, imunidade e meio ambiente. “Todos esses fatores explicam um pouco melhor a complexidade clínica observada em pacientes com a doença”, explica Tatiane Curi, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

O fator de risco mais forte conhecido para dermatite atópica é o histórico familiar e histórias de doenças como rinite, bronquite e dermatites de um modo geral. É o caso da publicitária Amanda Lima, de 38 anos, que enfrenta a doença desde a adolescência. “Meu filho, o Pedro, hoje com 6 anos, também tem dermatite atópica e, no caso dele, a doença é mais severa. Ele ainda bebê tinha a pele do rosto bem áspera e com o passar do tempo o couro cabeludo era o lugar com a maioria das lesões. A fronha dele amanhecia suja de sangue”, conta.

Tatiane explica que a ocorrência de uma dessas doenças num dos pais aumenta 1,5 vez o risco de uma criança desenvolver dermatite atópica. “O risco é aumentado em 3 a 5 vezes se ambos os pais têm”, acrescenta.

As exposições ambientais podem desencadear ou exacerbar as crises. “Exposição a alguns produtos de higiene pessoal, poluição e alimentação podem levar a mais alteração da barreira de proteção da pele”, explica a dermatologista. Outros fatores de risco ainda incluem viver em ambiente com clima muito seco, dietas ricas em açúcares e gorduras, exposição repetida a antibióticos, banhos quentes e longos e falta de hidratação, uso excessivo de detergentes ou higienizadores.

Existem algumas alterações da resposta imune que aumentam as inflamações. “Além disso, já existem mutações genéticas conhecidas na dermatite atópica. A mais conhecida é a mutação do gene da Filagrina, que gera a alteração da barreira da pele e perda de água, o que causa o ressecamento”, explica a dermatologista Rafaella Caruso.

A verdade é que o prurido constante pode atrapalhar as atividades diárias, afetar a vida social, a vida na academia e o trabalho. “As lesões de pele podem trazer impacto estético, gerando prejuízo e baixa autoestima. Por isso, muitos pacientes desenvolvem quadros de ansiedade, insônia e depressão, secundários à dermatite”, conta Rafaella.

Por isso, o caminho para enfrentar a dermatite atópica são o conhecimento e os cuidados constantes. “A doença tem controle e, com o que sabemos hoje, podemos ter uma qualidade de vida ótima sem nos privar de nada da nossa rotina”, finaliza Tatiane.

Mas, afinal, eu tenho dermatite atópica?

O diagnóstico é geralmente clínico. “O dermatologista avalia as características das lesões de pele, localização, sintomas e a partir daí pode ser fechado o diagnóstico. Se houver alguma dúvida, existem exames complementares, como a biópsia de pele, mas que raramente é necessária”, explica Rafaella.

A partir disso, vem o tratamento. Durante as crises, o mais importante é evitar coçar o local e recuperar a barreira da pele, com completa cicatrização. “O principal pilar é a hidratação, na tentativa de restabelecer a barreira da pele. Em segundo lugar, usamos medicações tópicas para controle da inflamação. O uso de medicações via oral também ajuda muito a romper o ciclo de prurido intenso”, conta Rafaella.

Fonte: Externa

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