As mídias sociais podem possibilitar a distribuição democrática da informação, o que favorece múltiplas formas de expressão e gera conexões ágeis na esfera profissional e pessoal. No entanto, seu uso disfuncional tem se tornado, lamentavelmente, um lugar comum nos últimos tempos.
Ataques em escolas que, de alguma forma, são inspirados ou estimulados por usuários dessas redes; ações massivas contra celebridades ou pessoas comuns, em julgamentos morais sem qualquer espaço ao contraditório, nos chamados “cancelamentos”; disseminação de notícias deliberadamente falsas e desinformação para obtenção de dividendos eleitorais. Infelizmente, todos já ouviram falar de uma ou mais situações com essas características.
No Congresso Nacional, o projeto de lei que propõe a regulação das plataformas digitais por onde circulam essas informações torna obrigatória a moderação do conteúdo publicado na internet de modo que condutas consideradas irregulares possam ser identificadas, sinalizadas ou excluídas. E a responsabilidade por esse “detox” passa a ser das próprias plataformas, que deverão zelar pelo que é entregue aos usuários por meio de seus algoritmos.
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Se, por um lado, as redes sociais são enormes fontes de tristeza, dor e ódio – pois se beneficiam da circulação de notícias falsas, campanhas de desinformação e da polarização política –, por outro, é possível encontrar formas mais saudáveis de prender a atenção de quem as utiliza. Informação de qualidade pode dar ibope.
A maior parte dos respondentes (63,6%) também expressou interesse em participar de atividades envolvendo cuidados com a saúde mental, sendo que a maioria deles (47%) gostariam de realizar tais encontros de maneira tanto presencial quanto online.
Ao mesmo tempo, embora 62% dos respondentes considerem que serviços digitais visando a saúde mental sejam úteis, pouquíssimos participantes do levantamento (4%) chegaram a utilizá-los em algum momento de suas vidas.
A conclusão da pesquisa, que teve apoio do escritório de Atlanta do Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC-Atlanta) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), revela que o potencial de uso da telessaúde para os cuidados com a saúde mental em comunidades vulnerabilizadas é pouco explorado. Há oportunidades que podem ser cobertas por políticas públicas capazes de promover serviços digitais para populações em desvantagem socioeconômica.
A atuação governamental deve ter como foco medidas para ampliar a popularidade da telessaúde e das ações de educação em saúde mental, aumentando a penetração de soluções comerciais para dar mais opções aos pacientes.
Para atender às necessidades desse público, entretanto, deve-se trabalhar com design, formato e linguagem compatíveis com a realidade cultural e educacional dessas populações. Eis nossa principal sugestão às donas do Instagram, Facebook, X (ex-Twitter), YouTube, TikTok e assemelhados. Com suas enormes capacidades de impulsionar o que esse público gosta de ver e assistir nas redes sociais, por que não começar a identificar, capacitar e promover conteúdos que contribuam – ao invés de minar – a saúde mental de nossa juventude?
Talvez resida aí uma estratégia promissora para a tão necessária desintoxicação dos algoritmos.
*Felipe Moretti é psicólogo, pós-doutorando do Instituto D´OR de Pesquisa e Ensino, onde desenvolve pesquisassobre soluções digitais de promoção de saúde mental, como a plataforma (https://saudemental.idor.org/). Ronald Fischer é doutor em Psicologia Social pela Universidade de Sussex, e pesquisador no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, onde lidera estudos sobre culturas, crenças e intervenções em saúde mental. Fernando Bozza é médico, pesquisador titular da FIOCRUZ e coordena pesquisas em Medicina Intensiva no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, onde liderou diversos estudos relacionados à Covid-19 em comunidades vulneráveis no Rio de Janeiro.