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Primeiro, parabéns pela sua promoção! Não tenha dúvidas que, se ela ocorreu, foi graças ao seu talento, profissionalismo e resultados, e isso ninguém no mundo é capaz de tirar de você!
Sua pergunta fez eu me teletransportar para o começo da minha carreira. Eu escolhi começar por vendas porque, além das várias vantagens, eu sabia que seria um ambiente mais masculino e eu poderia ter a chance de mudá-lo nas minhas futuras possibilidades de contratação. Mas até lá, a minha realidade era de ser a única mulher em um grupo de mais de 10 vendedores homens.
Por mais que sempre houvesse muito respeito e parceria, eu sabia que algumas coisas que eles tinham acesso, não eram iguais para mim. Um exemplo disso era o fato desses vendedores criarem relacionamentos profundos com seus clientes ao saírem para tomar uma cerveja no final do dia, um churrasco de final de semana, dentre outros momentos descontraídos. Injustamente, sabemos que esse não é um ambiente que nos convida a participar e, pior, nos julga se formos até lá.
Não demorou muito tempo para eu perceber que eu não conseguiria replicar exatamente o jeito deles de vender, e assim eu foquei em criar o meu jeito de trabalhar: com escuta ativa, vontade de ajudar meus clientes, delicadeza e muito estudo. Foquei também em aprender rapidamente e me tornar especialista em temas que eu via que eles não dominavam, mas que eram as tendências do nosso mercado. Isso ajudou a me destacar. Então, caso você não tenha pares ou líderes mulheres, você não precisa “imitá-los”, tente descobrir o seu jeito de entregar os resultados e isso será de grande alívio para você também. Inclusive, você pode buscar por mentoras externas que já passaram por desafios similares ao seu. Isso será como um “porto seguro”.
Com sua equipe, busque criar e reforçar na sua fala e atitudes a importância de um ambiente de respeito e igualdade. Vale sempre no início de um cargo, marcar conversas individuais com todos os liderados (independente do gênero), tanto de diagnóstico (entender desafios, expectativas e oportunidades) quanto de um certo “contrato psicológico”. Esses são combinados entre você e seu liderado de como “trabalhar bem”. Deixe explícito aquilo que não irá tolerar e o que você quer ver mais na equipe.
E na rotina, seja “impecável” com esses combinados. Caso veja alguém tendo uma atitude inadequada, se possível, interrompa e sugira a forma adequada para lidar com aquilo. E procure sempre chamar individualmente essa pessoa para entender porque aquilo aconteceu e deixar explícito o que deve ser corrigido e como. Saiba que essas conversas não precisam ser acaloradas ou conflituosas. Significa colocar muito mais energia no “o quê”, nos fatos, dados e impacto, do que no “quem”, os julgamentos. A comunicação não-violenta pode ser uma excelente guia nessas conversas mais difíceis.
Infelizmente, não somos blindadas a pessoas que não prezam por esse respeito (que pode ser tanto com você ou uma colaboradora do time). Caso alguém repita o comportamento advertido, não tenha receio de ser firme e de reforçar o feedback. E se não funcionar, tenha uma conversa mais dura, formalize os combinados para a sua evolução (enviando para ele, para reduzir potenciais assimetrias de interpretação futura) e também o que acontecerá caso eles não sejam cumpridos – deixando também sua liderança a par da situação em suas reuniões privadas de report. Claro que se o ocorrido for grave e ferir fortemente os princípios da sua empresa, aja rápido e deixe a camada mais adequada (seu líder e/ou RH) envolvida na situação. Criar um ambiente saudável para todos é não deixar que atitudes inadequadas sejam naturalizadas conforme o tempo passa.
Procure ainda ficar atenta a como as mulheres do time se sentem na equipe com conversas individuais mensais, na qual você pode perguntar sobre a experiência de trabalho com os pares. Incentive, estimule que elas contribuam ativamente nas reuniões, que questionem os problemas e que tomem “riscos inteligentes” nos projetos da área. Mostre-se também preocupada e sempre aberta para conversar caso elas presenciem uma situação de discriminação, além de conscientizar a todos sobre as políticas que a empresa detém para esses casos. Um time onde as mulheres são empoderadas e incentivadas a crescerem, torna cada vez mais fértil o ambiente equalitário.
Acredito que esse mix de deixar muito explícito o que é esperado e o que não é tolerável, o reforço positivo e negativo ao longo da rotina e sua coerência na tomada de decisão são uma boa equação para criar credibilidade com a equipe, além de excelentes resultados em conjunto.
Além daquilo que você mesma pode fazer, conheça o que está disponível e demande por estruturas que ampliam a diversidade e inclusão na sua empresa, seja para sua liderança ou áreas responsáveis. Existem diversos caminhos pragmáticos que podem impactar positivamente à todos, como um Guia de Conduta, políticas anti-assédio e discriminação, treinamentos sobre diversidade e inclusão, ouvidoria, dentre outros aparatos.
Cuide bem também do seu “mundo interior”. Muitas vezes, situações de discriminação podem afetar fortemente nossa confiança e saúde mental. Busque analisar esses momentos fazendo um “zoom-out” da situação, observando os fatos sem julgamento, e divida aquilo que você quer absorver e aquilo que não te agrega e precisa deixar ir. Se você puder, faça terapia regularmente. Isso te ajudará a perceber as sutilezas do dia-a-dia e também sobre como tratar conflitos de uma melhor forma. Não tenha medo de levar uma situação que acontecer com você que fere as políticas da sua empresa para a liderança. Vamos sempre torcer para que o melhor aconteça, mas sem esquecer que o mundo real pode ser injusto conosco.
Sendo realista com os dados, a luta pela igualdade de gênero no ambiente de trabalho ainda será um grande desafio no nosso país nas próximas décadas. Porém, algo que eu acredito é no poder e na importância de ter mulheres em cargo de liderança. Isso mostra que é um caminho possível e incentiva outras mulheres a “tomar seu lugar na mesa” também. E eu não tenho dúvidas que você será uma delas. Que seja uma trajetória incrível na sua vida!
Carolina Utimura é Conselheira da Eureca – consultoria especializada em empregar e desenvolver jovens para grandes empresas – e, em 2022, foi escolhida Executiva de Valor, na categoria Jovem Liderança, pelo Valor Econômico.
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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.