O governo Lula (PT) lança neste mês uma campanha com apelo religioso na tentativa de reverter a tendência de piora de popularidade e de reduzir a polarização política —apesar de o próprio presidente insistir em ataques e citações a Jair Bolsonaro (PL) em seus discursos.
Como mostrou a última pesquisa Datafolha, um ano e três meses após assumir a Presidência pela terceira vez, Lula vê sua aprovação empatar tecnicamente com a rejeição.
O trabalho do petista foi considerado ótimo ou bom por 35%, ante 33% que o avaliam como ruim ou péssimo e 30% como regular. Entre evangélicos, 43% avaliam o governo como ruim ou péssimo, enquanto 25% o consideram ótimo ou bom.
Apresentado na manhã de quarta-feira (3) a Lula, durante reunião no Palácio da Alvorada, o mote “fé no Brasil” servirá como norte estratégico para as ações de comunicação em toda a Esplanada.
Além da marca, as peças publicitárias deverão ser acompanhadas da mensagem “isso é para todo mundo”, descrita como um gatilho cognitivo para a despolarização no país. A ideia é mostrar que os programas de governo melhoram a vida de todos.
Apesar da menção à fé, integrantes do governo negam que a campanha tenha como alvo o eleitor evangélico, podendo representar a crença em tempos melhores.
Em janeiro, quando pesquisas internas apontavam para a necessidade de divulgação de ações governamentais, a Presidência solicitou que as agências contratadas pelo governo apresentassem campanhas para o conceito “Bote fé”.
A campanha escolhida foi a da Nacional. Agora, as peças serão apresentadas às demais agências para que o conceito seja replicado na publicidade de outros ministérios.
O mote representa mais uma etapa da estratégia de comunicação definida no ano passado, sob o slogan União e Reconstrução.
Segundo integrantes do governo, os primeiros meses do governo Lula foram marcados pela retomada de programas suspensos pelo governo Bolsonaro —por isso o “Brasil voltou”. Já o conceito “Rumo certo” faz referência à adoção de medidas econômicas, como a redução do preço do petróleo e o reajuste do mínimo.
Na avaliação da comunicação, agora o momento é de entregas. A campanha será apresentada a todos os ministérios e órgãos ligados ao governo federal. A ideia é que todas as áreas do governo façam campanhas com o mesmo mote, adaptem para suas realidades e divulguem as realizações desses 15 primeiros meses de gestão Lula.
Essa não é a primeira vez que o conceito de fé no Brasil é usado em publicidade política. Em 1989, quando Lula disputou pela primeira vez a Presidência, a campanha do candidato do PL, Guilherme Afif, se notabilizou por um jingle cujo refrão era “Juntos chegaremos lá/Fé no Brasil”.
Integrantes do Palácio do Planalto dizem acreditar que o Executivo tem potencial para atingir de maneira positiva cerca de 70% da população, o que soma os votos recebidos pelo PT em 2022 e os cidadãos que não compareceram aos colégios de votação, mas também são abrangidos pelas pesquisas de opinião.
Apesar da linha da comunicação de tentar reduzir a polarização no país, Lula cita recorrentemente o ex-presidente em seus discursos e faz duras críticas a ele.
Na última reunião ministerial, chamou Bolsonaro de “covardão” por não ter levado adiante os planos golpistas e acrescentou que só não houve golpe de Estado porque “algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas” não quiseram seguir por esse caminho.
No ano passado, ele chegou a prometer não mais falar de Bolsonaro. “De mim, vocês vão perceber que eu vou terminar quatro anos sem falar uma vírgula do outro governo, porque, para mim, ele não existiu”, afirmou o chefe do Executivo em cerimônia de sanção da duplicação de um trecho da rodovia BR-423 em Pernambuco, em 8 de novembro.
No entanto, Lula tem descumprido a promessa. Em dezembro do ano passado, chamou o ex-presidente de “facínora” e “aquela coisa”, além de acusar o adversário político de “usar a fé dos evangélicos”.
Antes, em 22 de novembro, tratou Bolsonaro como “gente ruim” por liderar um governo que “gostava de brigar”.
“Tivemos recentemente um governo nesse país que tudo que ele gostava era brigar, porque tem gente ruim que não sabe fazer política sem ter inimigo. ‘Eu preciso ter um inimigo para justificar as coisas que eu faço’. Pois o Lula não quer ter inimigos, quer ter amigos”, afirmou o presidente, durante cerimônia do Minha Casa, Minha Vida no Palácio do Planalto.
O governo diz manter otimismo, apesar dos resultados negativos dos últimos levantamentos, afirma que o primeiro ano serviu para formatar projetos e que, agora, a população sentirá as diferenças em relação ao governo anterior.