Bicho geográfico é o nome popular dado à infecção por larvas de vermes do gênero Ancylostoma. Esses parasitas invadem a pele humana quando pés, mãos ou mesmo nádegas entram em contato com solos contaminados — geralmente areia de praias ou parquinhos. O apelido vem das marcas deixadas pela larva, que ‘caminha’ pela camada superficial da pele, desenhando curvas.
A condição não chega a ser grave, mas provoca lesões na pele e coceira, podendo ser um baita incômodo para quem só quer curtir as férias.
“A doença causa mais problemas durante o verão, porque é mais comum as pessoas frequentarem praias e praticarem esportes, como futebol e vôlei, em locais abertos”, diz a dermatologista Mônica Nunes, assessora de doenças infecciosas e parasitárias da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
A médica acrescenta que a infecção “pode e deve ser prevenida”. Por isso, é importante conhecê-la e ter atenção aos cuidados para evitá-la.
Quais são os sintomas?
O primeiro sinal de que uma pessoa está contaminada é o surgimento de um ponto vermelho na pele, no local onde a larva entrou. Ela também sentirá muita coceira.
“Nos dias seguintes, a larva faz trajetos sinuosos similares a mapas, por isso o nome popular de bicho geográfico”, explica Mônica sobre o avanço da doença, também chamada de dermatite serpiginosa. Isso acontece porque o parasita não consegue penetrar as camadas mais profundas da pele, então acaba circulando pela área mais superficial.
As marcas tendem a ser elevadas e avermelhadas, e podem ser acompanhadas por bolhas. Além da coceira intensa, mais acentuada à noite, também faz parte dos sintomas a sensação de movimento debaixo da pele.
Como acontece a transmissão?
As larvas são formas jovens de nematódeos do gênero Ancylostoma. Esses parasitas vivem no intestino de cães e gatos infectados, que ingeriram o verme adulto junto com água ou alimentos contaminados.
“Nos intestinos de cães e gatos, eles continuam seu ciclo de vida e os animais passam a eliminar os ovos dos vermes junto com as fezes”, explica Mônica. Encontrando condições favoráveis, os ovos eclodem e liberam as larvas no solo ou na areia.
Do chão, as larvas conseguem entrar no organismo dos humanos aproveitando-se de um ferimento ou perfurando a pele. Vale destacar que não existe transmissão do verme de uma pessoa para outra.
Como prevenir?
Geralmente, a larva acomete quem anda descalço ou senta, sem proteção, em locais de risco — o contato entre o solo contaminado e a pele precisa ser direto para ocorrer a infecção.
Por isso, permanecer calçado ao andar em áreas públicas e não sentar diretamente na areia da praia ou no gramado são as principais formas de prevenção. Outra dica é prestar atenção se o local costuma ser frequentado por cães e gatos.
Da mesma forma, a atenção dos cuidadores com seus pets também é muito importante. “É esperado que, quando possível, seja impedido que os animais eliminem suas fezes nas caixas de areia de praças, em quadras de areia e mesmo praias em geral”, afirma Mônica.
Evitar deixar o animal solto na rua, recolher imediatamente as fezes, bem como vacinar e vermifugar os bichinhos são outras medidas de cuidado e prevenção.
Tratamento
Segundo a SBD, na maioria dos casos, a doença se resolve sozinha em um ou dois meses. O tratamento, porém, alivia os sintomas e reduz o risco de infecção por bactérias que podem penetrar pelas feridas geradas no ato de coçar.
Para isso, são indicados medicamentos que agem contra vermes (anti-helmínticos) e parasitas (antiparasitários), diz Mônica. Eles podem ser tópicos, como pomadas para a área das lesões, ou orais, em caso de infecção mais duradoura.
O tempo de tratamento varia de acordo com a apresentação clínica, mas costuma durar de três a sete dias, afirma a médica. Nesse período, aplicar bolsas de gelo sobre a lesão ajuda a aliviar a coceira.