BCs da América Latina elevam cautela mesmo com Fed mais suave | Finanças

Redação
por Redação

Três bancos centrais da América Latina sinalizaram preocupação com a inflação para justificar suas posturas cautelosas nas decisões de juros de quarta-feira (31), em contraste com a crescente confiança do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) de que o início de seu ciclo de flexibilização está próximo.

Enquanto isso, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o primeiro corte de juros nos EUA pode vir já em setembro, diante de mais progresso em direção à sua meta de inflação de 2%.

O tão esperado início dos cortes do Fed deve ajudar os bancos centrais latino-americanos, ao aliviar a pressão sobre o câmbio. Mas as decisões e comunicados de quarta-feira deram o sinal mais forte até agora de que a flexibilização do Fed por si só não será suficiente, diante de fatores como alta dos custos de serviços e tensões políticas.

No caso do Fed, “a expectativa para setembro foi completamente consolidada”, disse Francisco Nobre, economista da XP Investimentos. “Na América Latina, os bancos centrais aumentaram a cautela.”

O Copom, liderado por Roberto Campos Neto, manteve a Selic em 10,5% em uma decisão que era amplamente esperada. O colegiado disse que há riscos inflacionários em ambas as direções, mas que um câmbio persistentemente mais fraco, projeções de inflação acima da meta e custos de serviços criam riscos de alta para os preços.

Os dirigentes do BC chileno votaram unanimemente para manter a taxa básica em 5,75%, o que foi previsto por apenas quatro dos 20 analistas em uma sondagem da Bloomberg. A autoridade monetária disse que os recentes dados melhores do que o esperado para o núcleo da inflação se beneficiaram de fatores transitórios.

Na Colômbia, o banco central cortou os juros em meio ponto percentual, para 10,75%, em uma decisão dividida depois que uma aceleração da inflação enfraquecer o argumento para uma flexibilização mais rápida. O ministro das finanças Ricardo Bonilla, que ocupa um assento no conselho, disse que o ritmo de alta dos preços ao consumidor terminará o ano perto de 5,5%, acima da meta de 3%.

As perspectivas de política monetária no Brasil, Colômbia e Chile podem mudar em setembro se o Fed for adiante com um corte de juros, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

“Isso daria aos bancos centrais latino-americanos mais liberdade para calibrar a política monetária”, disse ele. “Mas, em última análise, se esse for o caso, tudo dependerá do comportamento dos mercados de câmbio.”

Para complicar ainda mais a situação, os BCs enfrentam pressão política de presidentes cada vez mais desesperados para impulsionar o crescimento e, em alguns casos, ações que alimentam diretamente a inflação.

“E ainda há incertezas quanto ao processo de flexibilização monetária nos EUA”, disse Nobre, da XP. “Os mercados estão precificando três cortes este ano, mas isso pode ser otimista.”

Nobre, da XP: bancos centrais da América Latina aumentaram a cautela — Foto: Leonardo Rodrigues/Valor

Fonte: Externa

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