À espera de corte dos juros nos EUA, estrangeiro sai da B3 e mingua volatilidade

Redação
por Redação

A Bolsa brasileira está com a volatilidade baixa em 2024, pouco saindo do lugar (e, quando sai, geralmente é para baixo). Em grande parte, especialistas destacam que isso se dá pela saída do capital estrangeiro, em decorrência da alta dos juros nos Estados Unidos, e pelo ganho de atratividade da renda fixa.

O recém-lançado VIX BR, que mede a volatilidade do Ibovespa opera nesta quinta-feira (4) estável, nos 15,68 pontos, com a volatilidade, dentro da definição do S&P e da B3, em nível moderado (mas próxima do nível baixo). 

No fim do ano passado, a perspectiva de que o Federal Reserve poderia cortar a taxa de juros nos EUA já em março deste ano – o que não se cumpriu – gerou um fluxo de investimento para o Brasil e para outros emergentes. A tendência no entanto foi revertida no começo de 2024, conforme as incertezas quanto ao início do ciclo de baixa da fed funds aumentavam. 

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“Temos observado grandes retiradas do investidor estrangeiro na bolsa, já totalizando mais de R$ 20 bilhões. Isso se dá pelo fato de as treasuries ainda estarem com taxas muito atraentes, bem pela incerteza de quando iniciarão os cortes nos EUA”, explica Yan Vasconcellos, sócio da One Investimentos. 

Últimos dados da B3 apontam para uma saída, até o início de abril, de R$ 24,3 bilhões.

Juros elevados lá fora

Os juros nos EUA têm subido por vários fatores, mas principalmente acompanhando o preço do petróleo e os dados da economia americana mais fortes do que o esperado. Quando os juros sobem por lá, investidores passam a tomar menos risco, optando pela segurança dos títulos da renda fixa americana, tanto os públicos quanto os contratos privados.

Fora isso, a renda fixa brasileira também passou a pagar mais. Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, explica: “Por mais que as expectativas para a Selic e para a taxa de juros de curto prazo determinado pelo Banco Central não tenham mudado, o mercado já está olhando para a Selic terminal. Os juros são sempre relativos. Se os títulos soberanos americanos estão pagando mais no longo prazo, o risco relativo do Brasil acaba sendo maior, porque é tudo relativo”, contextualiza. 

No gráfico acima, a linha laranja, na parte de baixo, mostra a volatilidade (diferença entre mínima e máxima em pontos) do Ibovespa, que é a menor, ao menos, desde a pandemia.

Com os títulos do governo brasileiro pagando mais, tentando manter a atratividade frente aos americanos, os contratos privados também passam a ter de oferecer maiores prêmios – voltando a ganhar atratividade. “Se o governo pagar X para os investidores, com poucas exceções, as empresas vão pagar além do X, já que o título soberano, também com poucas exceções, é um título com o menor risco”. 

Boa parte dos fundos de investimento brasileiros tem preferido, por enquanto, a renda fixa, com a alocação em renda variável ainda baixa. Há uma postergação do fluxo de saída desses ativos, que era esperado conforme a Selic recua.

Não ajuda muito neste ponto também toda a incerteza fiscal que assola o Brasil, com investidores ainda duvidando da capacidade do Governo Federal de honrar a sua meta de arrecadação em 2024. “Quanto maior a incerteza fiscal, maior tende a ser a precificação de risco no longo prazo. Neste ano a gente viu bastante incerteza sobre as medidas de arrecadação do governo. O ano até começou bem, com uma boa elevação na arrecadação em janeiro, mas em fevereiro já veio com uma alta menor do que o esperada”, explica a economista da Rico. 

Concorrência externa

E há mais fatores. Já há algum tempo, especialistas também vêm apontando para o fato de a Bolsa brasileira ter perdido atratividade por conta do hype da inteligência artificial. Investidores vendo a oportunidade de ganhar com o investimento nas empresas que trabalham com essa tecnologia potencialmente disruptiva preferem apostar nelas ao invés de assumir risco em empresas brasileiras.

“A gente não tem observado um fluxo comprador vindo para a bolsa brasileira. Acredito que, em parte, também se dá pelo desempenho muito bom do S&P desde o final de 2023 até agora. O índice é puxado sobretudo pelo setor de tecnologia, principalmente pelas magnificent seven. O investidor que tem acesso a um portfólio internacional que está preferindo essas empresas”, acrescenta Lucas Serra, analista da Toro. 

Para ele – e outros especialistas -, o fato de as Bolsas nos Estados Unidos estarem apresentando uma performance interessante e uma “forte tendência de alta” faz investidores “não verem razões para desviarem do mercado norte-americano”.

Por fim, como principal gatilho para uma mudança de tendência no que tange a volatilidade da Bolsa brasileira, especialistas mencionam a definição de quando começará o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.

“O que poderia dar um gatilho para cima seria se a gente começasse a ver os cortes de juros nos Estados Unidos mais cedo. Mas se a gente tiver uma rolagem, com os cortes começando mais para o final do ano, o Ibovespa pode cair bem mais forte”, comenta Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Fonte: Externa

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