A principal legenda da oposição ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições em Istambul, mais populosa e rica cidade do país, neste domingo (31).
O atual prefeito, Ekrem Imamoglu, do Partido Popular Republicano (CHP, na sigla em turco) declarou-se vencedor com cerca de 90% das urnas apuradas e uma vantagem de 10 pontos percentuais em relação ao candidato da sigla de Erdogan, Partido da Justiça e Desenvolvimento (APK), Murat Kurum.
Mais cedo, com a apuração inicial refletindo números semelhantes, ele havia afirmado que estava “muito feliz” com os resultados iniciais. “Com base nos dados que recolhemos, posso dizer que a confiança que os nossos cidadãos depositam em nós foram de fato demonstrados”, disse Imamoglu em primeira declaração após o começo da apuração.
Em Ancara, o atual prefeito, Mansur Yavas (CHP), vencia com 60% dos votos contra 33% de Turgut Altinok (AKP) com mais de 85% das urnas apuradas. Yavas havia declarado vitória logo no início da apuração, com apenas 23% dos votos contabilizados.
Em Esmirna, terceira maior cidade turca, Cemil Tugay (CHP), hoje prefeito da vizinha Karsiyaka, liderava com 48,7% dos votos contra 37% de Hamza Dag (AKP) com mais de 92% das urnas apuradas.
“Há uma necessidade real de equilíbrio, pelo menos a nível local, contra o governo”, declarou em Ancara Serhan Solak, 56, que afirmou que seu intuito ao votar no atual prefeito, social-democrata, era dificultar a concentração de poder.
Erdogan, há mais de 20 anos à frente da Turquia, lançou-se com intensidade nas campanhas para o governo de grandes cidades do país ao lado dos candidatos do AKP, sigla conservadora nacionalista que ele mesmo fundou e que tem servido de base para a consolidação gradual de seu poder em todas as províncias do território desde 2001.
O mandatário chegou a realizar quatro comícios por dia. “Esta eleição marcará o início de uma nova era para nosso país”, afirmou Erdogan após votar em Istambul.
Com a apuração chegando ao fim, no entanto, ele reconheceu o resultados abaixo do esperado de seu partido. “O dia 31 de março não é um fim para nós, mas um ponto de inflexão. Avaliaremos os resultados das eleições nos órgãos do nosso partido e realizaremos a nossa autocrítica”, afirmou Erdogan.
Uma das eleições municipais nas quais ele mais se envolveu foi a de Istambul. O retrato do pouco carismático Kurum, ex-ministro do Meio Ambiente de seu governo, geralmente aparecia vinculado ao do líder nacional em cartazes e propagandas eleitorais.
Erdogan foi prefeito da cidade nos anos 1990, antes de se tornar presidente. Agora, buscava corrigir o que foi considerada a grande derrota do AKP desalojando Imamoglu. O rival tirou a cidade da sigla em 2019, em um pleito disputado duas vezes, já que o primeiro foi cancelado a pedido do governo.
“Espero que Istambul e a Turquia acordem [na segunda-feira, 1º] com uma bela manhã de primavera”, declarou o prefeito após depositar seu voto, acompanhado de sua família. Uma reeleição no mais rico e populoso centro urbano do país aumenta suas chances e de seu partido nas próximas eleições presidenciais, previstas para 2028.
Erdogan descreveu Imamoglu como alguém ambicioso e pouco preocupado com sua cidade, chamando-o de “prefeito de meio-período” obcecado pela Presidência.
Em 2023, o líder turco passou pelo seu maior teste de fogo em eleição presidencial apertada contra Kemal Kilicdaroglu, também do CHP, que terminou com 47,8% dos votos no primeiro pleito presidencial da história da Turquia a ir para o segundo turno —Erdogan foi eleito com 52% dos votos, em comparecimento de 85% dos eleitores às urnas.